sexta-feira, fevereiro 04, 2011

"O terrorismo dos juros compostos"



Esta expressão foi retirada do livro "Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno", de Serge Latouche. De facto, se pensarmos nas consequências do crescimento exponencial, poderemos ficar assustados com as conclusões. Por isso talvez se perceba melhor a frase de Al Bartlett de que: "The greatest shortcoming of the human race is our inability to understand the exponential function."
Bastam umas contas simples, referidas no mencionado livro (pág. 36):

Para obtermos o período de duplicação de uma determinada grandeza, basta dividirmos 70 pela taxa de crescimento por unidade de tempo.

Isto significa que, por exemplo, se o PIB crescer 3% ao ano, ele duplicará aproximadamente de 23 em 23 anos, e ao fim de 1 século terá crescido cerca de 31 vezes! Mas se crescer 10% ao ano (como na China) duplicará de 7 em 7 anos, e ao fim de um século terá crescido cerca de 16384 vezes! O livro indica 736, mas julgo que está errado, por defeito. 16384 obtém-se do seguinte modo: como a duplicação ocorre de 7 em 7 anos, existem cerca de 14 períodos de 7 anos num século, 2^14=16384!
Se me enganei nas contas, corrijam-me. De qualquer modo, isto ilustra a escala do crescimento, manifestamente insustentável. De modo mais directo,evitando as aproximações, a 10%,ao fim de um século, a grandeza cresceria 13780 vezes (1.10^100).

2 comentários:

Anónimo disse...

A falência, algures no futuro, dos recursos do planeta (escassos por natureza), devido às exigências de uma utilização em crescimento exponencial, impõe-se como um dado natural. Mas aquilo que ‘aparenta ser’ de fácil explicação racional, com tradução matemática e tudo – afinal, o campo em que os ‘neoliberais’ mais gostam de se mover – não consegue parar a dinâmica do que ‘aparenta ser’ uma estratégia suicida do sistema instituído.
Ora, este jogo de ‘aparências contraditórias’ é controlado pelas denominadas ‘leis do mercado’, vive subjugado pelo ‘mercado’, um mecanismo cujo ADN impõe a exigência de resultados imediatos sobre uma visão estratégica e sustentável, onde assenta a norma do crescimento contínuo. Da visão imediatista à pura predação dos recursos...
A única entidade (pela sua própria natureza, objectivos prosseguidos e dimensão da sua massa crítica) que podia ‘dar-se ao luxo’, no contexto das ditas ‘leis do mercado’, de manter uma visão estratégica e sustentável – 'os Estados' – tem vindo a perder espaço e força perante o avanço ‘liberal’, assistindo-se a uma transferência (imposta por esta ideologia) das suas tradicionais funções para os privados, implicando uma cada vez maior predominância do imediato sobre uma estratégia a nível global.
Só mesmo quando o tecto nos cair em cima é que perceberemos que a casa está mal construída!

José M. Sousa disse...

Pois, porventura só quando estivermos à beira do abismo é que vamos perceber, mas corremos o risco de ser tarde demais!